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NOS PRIMAVERA SOUND 2015 @ DIA 2 [REPORTAGEM]


NOS Primavera Sound 2015 em Dia 2

Os dois primeiros dias do Primavera Sound pertenceram a Patti Smith, que nos brindou com dois concertos memoráveis. Já Antony Hagarty elevou o palco NOS a um género de pedestal musical, e a grande festa da noite esteve a cargo da paleta sonora dos Jungle.

O 2º dia começa cedo com a Banda do Mar, mas a verdade é que a curiosidade jazia ao lado – a libanesa Yasmine Hamdam prometia algo diferente, e em boa verdade assumimos que foi uma das surpresas desta edição do Primavera. Um pop com raízes no médio oriente cruzado com a voz sedutora de Yasmine, é uma fórmula que parece resultar, e bem.

Mas a ansiedade anunciava o final de tarde perfeito, e eis que quatro décadas depois, Horses continua a provar-se transversal a todas as gerações e gostos, numa pura consciência humana através de melodias eternas. Patti Smith e a sua banda, invadiram o palco principal e tocaram o disco na íntegra do lado A ao B com apontamentos sociais, críticos e encorajadores, que deixaram a voz do público insurgir-se em concordância.

Horses é um disco que ainda hoje faz sentido, e condiz bem com a consciência desta nossa “geração à rasca”, muitas vezes pouco desenrascada. Mas como a Patti ensinou e bem, People Have the Power.

Temas como Gloria e Birdland desfilaram num tapete musical emotivo, mas tudo ganha uma profundidade bem mais intensa algumas canções depois; Patti dedica Break it Up a Jim Morrison, e relembra que Elegie foi escrita em memória de Jimi Hendrix , acrescentando: «todas as pessoas que amámos e perdemos, saibam que esta canção está a ser cantada para elas».

Esta foi uma actuação que nos relembra que a voz e a palavra (dita, escrita e cantada) tem força – e que essa força é urgente, não no passado nem no futuro, mas agora.

Sempre brindada com aplausos ao rubro no fim de cada tema, Patti Smith agradeceu e elogiou o festival, confessando esperar um novo convite no futuro. O fim chegou com os clássicos Because the Night e People Have the Power, temas que foram acompanhados pelas cerca de 30 mil vozes que se encontravam no Parque da Cidade do Porto.
José Gonzalez no NOS Primavera Sound 2015

Depois de Patti ter pincelado a ouro o palco NOS, foi tempo de José Gonzalez pincelar a doçura o palco Super Bock. Apesar de a hora ter sido mais propícia a pizza e hambúrgueres do que a música, a verdade é que ainda assim milhares de pessoas assistiram ao concerto do terno José.

Crosses  abre o repertório, a solo em palco, e logo a seguir entrou o resto da banda; «please, welcome my band», pede tímido – e ainda bem que entraram em cena, para avivar um pouco mais o ambiente.

Não se pode exigir muito ritmo a Gonzalez; quem o conhece sabe o quão intimista consegue ser, e acima de tudo conhece-lhe o teor melódico e contemplativo do seu estilo. Contudo, temos de referenciar o facto de não ter sido a melhor banda sonora para a hora de jantar. Muitas conversas dispersas no ar abafavam os temas do novo disco, Vestiges and Claws, numa actuação que nos deu a sensação de estarmos num qualquer convívio social com uma boa música de fundo, apenas.

Ainda assim, a cover de Teardrop deixou-se ouvir, e José Gonzalez merece todo o respeito do mundo por manter a ternura em palco, sendo um daqueles artistas que deixa sempre sabor a pouco e uma vontade tremenda de se voltar a ver.

The Replacements no NOS Primavera Sound 2015
Para uma digestão fácil, houve The Replacements com clássicos a serem debitados, mas mesmo assim não agarraram os mais audazes que fizeram um pequeno escape até às guitarradas de peso dos Electric Wizard. Com um stoner/doom bem ao estilo Master of Reality de Black Sabbath, estes feiticeiros eléctricos conseguiram arrebitar os demais.

Depois de Electric Wizard, encaixar na boa disposição dos Belle & Sebastian não foi fácil. Mas após o começo com Nobody’s Empire, foi fácil conquistar o gigante público – primeira enchente do dia, que aconteceu para ver estes escoceses sem medo de palco.

Uma autêntica festa on stage, passando por temas vários de Dear Catastrophe Waitress e Write About Love.
Belle and Sebastian no NOS Primavera Sound

Contudo, este dia parecia estar destinado a ser mais contemplativo e profundo do que propriamente festivo e energético. Depois da consciencialização de Patti, a melancolia de Gonzalez, e o peso de Electric Wizard, o verdadeiro clímax espiritual ainda estava por chegar…

Não há palco que chegue para Anthony and the Johnsons, ou melhor, para Anthony Hagarty. Megalómano surge aqui como metáfora para o descrever, sem ofensa de todo, muito pelo contrário!

Aqui não há espaço para respirar. Por vezes sufocava o cenário que Anthony apresentou neste Primavera Sound em pleno Porto; a orquestra revestida a branco, conduzida por um maestro entregue à causa, a juntar às imagens perturbadoras do filme "Mr. O's Book of the Dead" por Chiaki Nagano.

Um espectáculo pautado por silêncios difíceis de conseguir num festival, contando com canções do álbum I Am a Bird Now como Hope There's Someone  e You Are My Sister, passando por Blind (Hercules and the Love Affair),  Ghost e Cripple and the Starfish.

Anthony Hagarty alcança uma intensidade musical que invade a alma de qualquer pessoa. Fica a dúvida se um festival como este é o mais adequado para esta instalação musical que merece não um palco, mas um pedestal por inventar ainda.
Jungle no NOS Primavera Sound 2015

Findo o concerto mais surreal desta edição, eis que Run The Jewels, Jungle e Ariel Pink tocaram pela mesma hora. A escolha foi difícil, mas surgiu naturalmente como só a boa música o sabe fazer acontecer – Jungle foi pura comoção a várias cores!

T e J (Tom McFarland e Josh Lloyd-Watson) cozinharam esta receita multicolor, numa explosão de sonoridades – desde o soul ao funk, passando pela electrónica e o dance music – numa brincadeira que de inocente, não tem nada.

Sete elementos em palco, num jogo perigoso para quem acaba de sair de uma introspecção soberba a cargo de Anthony. O colectivo Jungle fez-nos passar da pura catarse à total libertação interior traduzida numa dança pegada desde o minuto zero.

Um track listing cheio de groove, desde Julia, passando por Lucky I got What I Want, os singles The Heat e Platoon, e a maravilhosa Time – não houve vivalma que se mantivesse de pés assentes no chão! Milhares dançavam de sorriso no rosto, e quando o fim chegou, o público recusou que a festa terminasse. Aplausos, assobios, gritos – ninguém arredou pé na esperança de um encore. Mas a verdade é que Jungle não voltaram mais. (Aguardamos por uma nova vinda a palcos portugueses, por favor!)

Se o old school é a nova “cena”, bem-vindos sejam os Jungle então, pois este batido de cores, sons e tons veio para refrescar os ouvidos de qualquer amante de (pura) música.

Era então hora de ir descansar o esqueleto, porque o último dia iria exigir-nos que fizéssemos uma paragem, mais cedo, na tal Estação de Serviço especial… curiosos?

GALERIAS FOTOGRÁFICAS
(Clica nas imagens para veres todas as fotos)

Banda do Mar
Giant Sand
Viet Cong
José Gonzalez
The Replacements
Belle and Sebastian
Jungle

Data: 2015-06-05
Fotografia: José Ribeiro
Texto: Li Alves

Vê aqui as Reportagens completas:
- Dia 1 @ NOS Primavera Sound 2015
- Dia 2 @ NOS Primavera Sound 2015
- Dia 3 @ NOS Primavera Sound 2015

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