O EDP Cool Jazz Fest arrancou dia 19 Julho com Herbie Hancock e Chick Corea.
O Jardim do Marquês exibia de forma elegante e discreta, sem ferir a sua beleza verdejante, as marcas de suporte a esta festa de música, num ambiente descontraído mas muito bem organizado.
Às 21:30 tudo estava pronto para receber os músicos. O palco com dois pianos acústicos de cauda, dois sintetizadores e um recinto com lotação (quase) esgotada. O problema surgiu depois. A impaciência começou a apoderar-se do público à medida que os minutos passavam. Hancock e Corea teimavam em não aparecer e os assobios começaram. Com um atraso de 20 minutos ouve-se finalmente um aplauso efusivo: os dois músicos entravam em palco numa pose descontraída, típica de quem recebe amigos em casa.
Esta dupla imponente do Jazz/Fusão, que não se juntava em tour desde os anos 70, não se ficou pelo virtuosismo no piano acústico. Os sintetizadores trouxeram ambiências electrónicas envolventes e minimalistas. Não tivemos acesso à setlist mas não faltaram os obrigatórios “Maiden Voyage” e “Cantatoupe Island”.
Em jeito de brincadeira foi dedicada uma música ao antigo patrão – Miles Davis. “Solar” foi tocado de forma frenética onde tudo valia, desde cromatismos a mudanças de tom. Absolutamente incrível.
O último tema do duo foi tocado em trio. A plateia foi dividida em 5 secções (2 masculinas e 3 femininas) e cada secção cantava uma das notas do acorde si menor. Depois do breve ensaio vocal liderado por Chick Corea, começa a ouvir-se “Concierto de Aranjuez”. Foi um momento absolutamente sublime em que as diversas partes do tema terminavam com o público a cantar o acorde. Mas não ficou por aqui. Para ajudar à festa, depois de um sonante acorde de si cantado pelo público, a música acelera e entra “Spain”. Hancock e Corea retomam o formato trio e tocam frases no piano para o público repetir. Épico!
Seguiu-se o encore com direito a duas músicas, já que ninguém arredava pé. Com o regresso dos músicos houve mesmo uma invasão da plateia sentada, trazendo parte da multidão para junto do palco. “Love Supreme” de Coltrane foi tocado em formato trio com direito a muitos sorrisos, apertos de mão e uma enorme descontracção.
Este foi o último concerto da tour europeia. Não podemos garantir que Hancock e Corea tenham cumprido a promessa inicial “save the best for last”. Mas que foi bom, sem dúvida.
Data: 2015-07-19
Texto: Mário Fonseca
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