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ENTREVISTA: PRIMITIVE REASON - "QUE VENHAM MAIS 20 ... POWER TO THE PEOPLE!"

Que venham mais 20...Power To The People! (Abel Beja - Primitive Reason)

Na véspera da apresentação oficial do novo álbum "Power to the People" a My Sound esteve à conversa com guitarrista Abel Beja que juntamente com Guillermo de Llera na voz e percussão, Luís Pereira no baixo, Rui Travasso no saxofone, e Tino Dias na bateria, formam a composição atual dos Primitive Reason. Falamos sobre este novo trabalho, mas também sobre o percurso da banda que, em 2013, comemora o seu vigésimo aniversário.


My Sound: Antes de tudo, os nossos parabéns pelos 20 anos de Primitive Reason. O que significam para vocês estes 20 anos, apesar de apenas restar um elemento da formação inicial? Sentem que marcaram uma geração? 

Abel Beja: Embora não tenha feito parte da formação inicial, acompanhei o percurso dos Primitive Reason antes de Alternative Prison e o boom de ‘Seven Fingered Friend’. Na altura visitava Portugal frequentemente e ainda apanhei alguns concertos entre ‘95 e ‘97 e posso dizer, sem dúvida alguma, que os Primitive Reason marcaram essa geração. 

MS: Falando um pouco no passado. Ainda na década de 90, sentiram a necessidade de se mudar para Nova Iorque para conseguirem projeção internacional. Como lidaram com esta mudança? Como foi a experiência de produzirem música fora do vosso país, apesar de as vossas origens serem, à partida, de países diferentes? 
AB: A decisão de mudar para Nova Iorque não foi fácil para a banda. Depois de todo o sucesso alcançado em Portugal estava na altura de abrir novos horizontes e surgiu a oportunidade de ir para Nova Iorque e assinar um contrato discográfico com uma nova editora. Eu ainda estava lá a viver nessa altura e quando me ligaram em fins de 1998 a dizer que iam para a minha terra fiquei um pouco surpreendido. Achei que fazia todo o sentido que a banda apostasse na carreira internacional, até porque a reacção do público estrangeiro que conhecia os primeiros álbuns tinha sido muito positiva. Mesmo nos Estados Unidos não se encontrava uma banda igual e o som já tinha uma forte identidade americana. 
Entretanto, alguns membros da banda saíram por várias razões diferentes e o Guillermo pediu-me para ajudar nas gravações de guitarra para as primeiras maquetes de Some of Us. Acompanhei de perto o processo de produção do álbum e posso dizer que em termos criativos a adaptação foi fácil e o disco teve muitas boas criticas tanto dos media como dos fãs. A seguir ao lançamento acabei por entrar na banda e fizemos várias digressões extensas pelos Estados Unidos que correram muito bem. 

MS: Ao longo dos anos, vários músicos passaram pelos Primitive Reason. Como foi lidar com estas mudanças? 
AB: A mudança é uma parte natural da vida. As pessoas fazem as suas opções e não podemos julgá-las por isso. Não é fácil lidar com mudanças numa banda, particularmente numa banda que já tem uma carreira estabelecida porque numa relação criativa as decisões e alterações podem ser interpretadas de forma errada, e são levadas muito a peito, tanto pelos músicos como pelos fãs. Além disso existe ainda a relação de proximidade entre músicos que por vezes demora e o trabalho que tem de ser feito para aprender músicas e encaixar cada personalidade na banda. Felizmente, temos conseguido ultrapassar todas essas dificuldades, mantendo grandes amizades e continuando o nosso percurso como banda. 

MS:   A vossa música percorre vários géneros musicais e as vossas influências sonoras provêm de diferentes pontos do globo. Consideram-se cidadãos do mundo? 
Abel: Como disseste, a banda sempre foi constituída por elementos de origens diferentes. Além disso, viajamos um pouco por todo o mundo o que naturalmente cria uma visão multicultural. Com a expansão da internet e a possibilidade de uma interação cada vez maior com pessoas de todo mundo é inevitável que sentirmo-nos, tal como todas as novas gerações se sentem, cada vez mais cidadãos do mundo. 

MS: No decorrer das vossas andanças por palcos internacionais, onde se sentiram mais bem recebidos? 
AB: Felizmente, temos sido bem recebidos por todo lado. É sempre curioso pisar o palco de uma ‘nova’ cidade pela primeira vez pois a maior parte do público está a conhecer a banda ao vivo, também, pela primeira vez e as pessoas estão atentas e a ‘absorver’ a nossa música. Quando quebramos o gelo e o pessoal começa a dançar e cantar, é algo especial. Quando regressamos a essa cidade e vemos novamente algumas dessas caras, sabemos que já conquistamos novos fãs e é o ponto de partida para a expansão da “família” Primitive. 

MS: Falando do vosso novo disco. Tendo já dado a conhecer um pouco do que se poderá ouvir em “Power to the People”, a ser editado a 1 de Abril, como tem sido a recetividade por parte dos fãs? Que mais nos poderão dizer acerca deste novo trabalho? 
AB: A reacção dos fãs tem sido espectacular. Acho que depois de tantos anos e várias mudanças na formação, eles não sabiam o que esperar. Depois de disponibilizar algumas músicas online e receber algum feedback acho que eles, tal como nós, sentem que este álbum vai ser algo de especial. 

MS: Desde 2002 que os vossos discos são editados pela Kaminari Records. No entanto, para este novo trabalho, recorreram a uma campanha de financiamento do público. Como correu toda esta nova experiência? 
AB: Foi uma boa experiência e superou as nossas expectativas. Como tínhamos feito uma pausa nas digressões e decidimos não manter uma presença online durante esse hiatus auto-imposto, estávamos um pouco ‘desaparecidos’ perante os nossos fãs e o público em geral. Por isso, não sabíamos como é que este processo ia correr quando voltamos às redes sociais e anunciamos a campanha. A verdade é que o feedback dos nossos fãs não poderia ter sido melhor e muitos aderiram ao crowdfunding, até que ultrapassamos o target. Quem conhece a banda há muitos anos sabe que temos uma forte aproximação com os fãs e o sucesso que tivemos em co-financiar um álbum com eles foi um passo muito importante para o futuro da banda. 

MS: Este recurso é cada vez mais utilizado pelas bandas musicais. Consideram que o futuro da industria musical passa por aqui? 
AB: Acho que este recurso é só uma das soluções para o futuro das bandas, mas o futuro da indústria musical precisa de muito mais soluções. O facto de as bandas serem cada vez mais DIY (do it yourself) ou independentes é um passo importante, sem dúvida, mas isso é só o início. Para usar um recurso como o crowdfunding com sucesso é preciso ter uma base substancial de fãs e criar uma boa reputação com os mesmos. Para isso é preciso sair da garagem e das redes sociais e tocar ao vivo, ganhar rodagem e trabalhar ideias para apresentar um produto original e de qualidade. Felizmente, estão a surgir cada vez mais bandas independentes com esta filosofia. 

MS: “Power to the People” marca também o vosso regresso, pois estiveram alguns anos sem lançarem discos. Como encaram este regresso? 
AB: Depois de muitos anos sem editar um álbum era muito importante para nós regressar em grande. Por isso também tivemos o cuidado de não apressar as coisas. Foi muito difícil manter a calma e manter tudo ‘under the hat’ considerando que quando entramos em estúdio temos a tendência para criar com abundância e o impulso é querer logo lançar as músicas para depois criar mais. Íamos fazendo pequenas pausas para amadurecer ideias e depois aprofundamos tudo na pré-produção no verão do ano passado. Mesmo assim sobraram algumas músicas, pois selecionamos o que achamos ser o ‘best of’ de tudo que tínhamos feito. A partir de Setembro passamos 3 meses em estúdio a gravar e depois enviamos as sessões para Nova Iorque onde o Bob Brockman gravou a secção de metais e misturou as músicas. Quando começamos a ouvir as misturas ficamos super contentes  Sabíamos que toda esta demora ia valer a pena e depois o toque final veio das mãos do John Golden que masterizou o disco na Califórnia  Ou seja, pode dizer-se que foi um trabalho que passou de costa em costa desde o Atlântico ao Pacifico até voltar às nossas mãos. Um exercício de paciência para nós e para os fãs, que valeu bem a pena!

Primitive Reason - "Set Your Ash Down" 

MS: Será no dia 29 e 30 de Março que irão apresentar oficialmente o novo disco no Porto e em Lisboa. Com que poderemos contar para estas duas noites? 
AB: Estas duas noites vão ser momentos de grande festa para nós, pois depois de muito trabalho e paciência vamos, finalmente, partilhar a nossa música com os fãs ao vivo. Acho que esse é dos momentos mais especiais para um músico. 
Além de apresentar grande parte do álbum ao vivo pela primeira vez, vamos revisitar muitas das músicas que marcaram um percurso que dura há 20 anos!

Primitive Reason - Reportagem do Concerto de apresentação

MS: Gostariam de deixar alguma mensagem aos nossos leitores? Talvez um convite oficial para os próximos concertos … 
AB: Estão todos convidados para os concertos de apresentação do nosso novo álbum e início de uma digressão que vai comemorar 20 anos de existência dos Primitive Reason. Que venham mais 20...Power To The People!

Entrevista: Melanie Rouxinol Silva
Fotografia: Ana Pereira

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