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UNKNOWN MORTAL ORCHESTRA @ ARMAZÉM F [REPORTAGEM]

Unknown Mortal Orchestra in Lisbon

Nesta trágica sexta-feira 13 (que se tornou) de uma aparente calma noite de novembro, pontualmente presentes no Armazém F, em Lisboa, apresentou-se o duo formado por um londrino e um nova-iorquino. Os Youthless (desta feita com mais um membro a transformá-los em trio). O britânico Sebastiano Ferranti (baixo e vozes) e o nova-iorquino Alex Klimovitsky (bateria, sintetizador e vozes) fizeram-se acompanhar de mais um membro de apoio, integrado recentemente nesta banda baseada em Portugal, para abrir a primeira parte aos cabeças de cartaz Unknown Mortal Orchestra.

Com uma plateia na sua grande maioria oriunda de um baby boom ocorrido em meados dos anos 90, não foi difícil extrair reações explosivas e entusiásticas de um público borbulhante e caracteristicamente sedento de emoções.

Abriram com o tema que tornou a banda popular nas rádios - Golden Spoon –, uma composição visivelmente conhecida e apreciada. A sua energia tem alguns ponteados de Tame Impala presentes, ainda que muito leves, com sons veraneantes e de ‘ficar no ouvido’ – um tipo de som para se ouvir numa viagem de carro pela costa californiana, de cabelos ao vento e roupa leve, energicamente fresco e com uma bateria incessante. Testemunhou-se uma simbiose e cumplicidade fundente entre os membros durante a atuação, alturas havendo em que se parecia assistir aos seus ensaios. Uma aparição relâmpago, poderia dizer-se, já que durou aproximadamente uma meia hora preenchida com quatro temas que nunca quebraram o ritmo imposto por estes elementos. Um momento de fusão de um dos elementos no meio da multidão assistente fez render ainda mais o curto espaço de tempo deixados por eles em palco.

Passado o hall de entrada desta noite, com as atuações milimetricamente pontuais, os Unknown Mortal Orchestra, liderados pela original simpatia do vocalista Ruban Nielson, tomam o lugar. Esta banda, de formação muito recente e com 3 álbuns de estúdio, uma formação de duas nacionalidades, mistura uma série de géneros progressivos e torna-se ela mesma de alguma difícil nomeação já que, na miríade que é a classificação de um género musical, tende-se cada vez mais a uma enorme amálgama de géneros e subgéneros facilmente catalogáveis, apenas, por sensações transmitidas, quiçá.

Têm momentos que lembram uns Beach Boys progressivos, experimentais, mais urbanos que surfistas, um som de sabor piña colada, e imediatamente um Jean-Michel Jarre com hiperatividade em palco. Nielson arrasa no palco com a sua energia explosiva que o leva a correr o recinto de uma ponta à outra - não lhe interessando se o comprimento do fio do micro lhe o permite fazer - como se encosta numa coluna no fundo do palco, no chão, em comunhão com a guitarra, contemplativo, de costas para o público. E é a atitude que mostra ter mais poder em todo o concerto que propriamente os temas mostrados.

A sala esgotada e os coros de vozes nos temas deste último Multi Love mostraram que mesmo com a cultura descartável que existe nos nossos dias de bandas on-off, ainda há espaço na memória para letras de música, mesmo que não sejam os poemas de outrora, e que não só de música mas de muita atitude se fazem as bandas. Para não se ser só mais uma. Ruban Nielson é disso um exemplo.


Texto: Inês Batista
Fotografia: Alexandre Paixão

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