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MALLU MAGALHÃES @ CASA DA MÚSICA [REPORTAGEM]


Como tantos meios de comunicação anunciaram, e bem, esperava-nos um concerto deveras especial, com Mallu Magalhães a interpretar o tão acarinhado álbum “Pitanga”. É com 21 anos que alcança a proeza de encher o CCB em Lisboa e a Casa da Música no Porto, tendo já conquistado, sem réstia de dúvida, o público lusitano.

Ver Mallu entrar em palco é sentir uma brisa primaveril, doce e quente que, juntamente com a simplicidade e genuinidade das letras das suas músicas, nos faz crer no quão simples pode (e deve) ser viver. Foi repleta de sorrisos e gestos delicados que a jovem artista nos trouxe um pouco dos seus 6 anos de carreira, a completar 7 já este ano (confidencia com orgulho ao público português).

Tuchubaruba” fez-nos recordar, com alguma nostalgia, o brotar da carreira de Mallu, entre vídeos caseiros publicados no Youtube e Myspace. Esta que parecia uma menina sonhadora, poderá servir de inspiração para muitos artistas que estão agora, em grande ânsia e incerteza, a publicar os seus trabalhos.

Todo o concerto foi envolto de uma atmosfera de conforto de um lar, entre família, amigos e intimidades. E, para completar, Marcelo Camelo, marido e músico brasileiro consagrado, marcou presença na Casa da Música, assumindo o seu lugar de eterno admirador, fã assíduo e fotógrafo dedicado. Contudo, no final do concerto pudemos notar uma certa decepção na plateia, que aguardava esperançada por um dueto do casal.

O seu repertório contou com “Cena”, “Ô, Ana”, “Olha só, moreno”, “Porque você faz assim comigo”, o blues “Youhuhu”, e várias canções em língua inglesa que, sem restrições, iam sendo sarapintadas de sotaque e mescladas com o português – “In the Morning”, “My home is My Man”e “Lonely”, numa entoada mais melancólica.

Quando, de súbito, soaram as primeiras notas de “Velha e Louca”, primeiro single de “Pitanga”, a artista, até agora contida e tímida, irrompeu em charme e descontração, “seguindo o seu nariz”. Enquanto balançava o corpo e se mantinha em pé “de perna bamba e solta”, sentia-se a rebentação de aplausos eufóricos da plateia.

Entre os temas, Mallu optava por falar pouco “senão começo a ficar emocionada e eu tô de rímel”, o que não foi entrave para que se formasse uma atmosfera de estreita amizade e à vontade. Um momento representativo disto foi quando Mallu, inesperadamente, gargalhou ao aperceber-se que teria de ser ela a iniciar a próxima música. Quando anunciou que o concerto se aproximava do fim, plateia fez sentir o seu desagrado e, quando se ausentou do palco adivinhando o encore, os fãs jorraram em palmas, assobios e gritos fervorosos, demonstrando um imenso carinho pela Paulista.

Mallu fez também algumas covers, entre elas “For all we know”, referindo a versão do lendário Nat King Cole. Seguiram-se temas que ainda não foram gravados, entre eles: “Quando você olha pra ela”, “Não se apavore não” – com uma mensagem de autocelebração – e “Lost Appetite”, tema no qual a artista diz sentir um grande orgulho por o ter escrito.

Highly Sensitive” também provocou alguns balançares de corpos, cedendo depois lugar, já no encore, à quietude de “Cais” – De onde eu vim/ Não tem mar/ Onde eu vim parar? Atraquei/ Nesse cais/ Por amor demais” –, interpretada de forma extremamente íntima, numa simbiose perfeita entre Mallu e o teclado.

Por pouco mais de uma hora de concerto, duração que o público lamentou, imperaram a bossa-nova, o indie, as letras a transbordar de amor e beleza, os sons harmoniosos e subtis, que ainda assim pareceram mais que suficientes para satisfazer os fãs e plantar a vontade por “mais Mallu”.

À semelhança do que aconteceu em Lisboa, “Sambinha bom” encerrou o espetáculo – “Agora sim é a última. Obrigada de novo. É um privilégio mesmo!”, disse do seu jeito terno e autêntico. Quase a terminar, a equipa de artistas (incluindo Marcelo) emergiu dos bastidores para ajudar a dar corpo às sonoridades de “…pouca nota/ Que é só tocar/ Que logo você quer cantar (voltar)”.

A par da previsível ovação de pé, os artistas, envergando os acromáticos preto e branco, agradeceram entrelaçados.


Data: 2014-01-28
Fotografia: Raquel Lemos
Texto: Sara Ralha